terça-feira, 16 de junho de 2009

O juízo de uma imagem

Segundo Robert Doisneau, fotografar os parisienses sempre foi o tema mais fascinante do seu trabalho. Doisneau gostava de passear pelas ruas e de frequentar o Café Chez Fraysse, situado à Rua de Seine. Em 1958, um casal chamou-lhe a atenção. Uma mulher muito bonita com olhar fixo no copo de vinho, observada por um senhor com expressão maliciosa. Doisneau pediu e obteve permissão para fotografá-los. A fotografia foi publicada na revista Le Point, numa matéria dedicada aos bares de Paris. Todas as fotos de Doisneau ficavam aos cuidados de uma agência. Assim, logo depois, a fotografia apareceu no modesto periódico, editado pela Liga Nacional Contra o Alcoolismo para ilustrar um artigo sobre os males do álcool para o ser humano. O homem da foto, um professor de desenho, ficou aborrecido com o uso impróprio de sua imagem para ilustrar um bêbado. Doisneau lamentou, explicando que nada podia fazer para controlar a venda das fotos. A situação piora ainda mais quando a mesma fotografia, copiada diretamente da revista Le Point, é reproduzida numa revista sensacionalista, sem a autorização da agência ou do fotógrafo. Desta vez, o texto que acompanha a foto é sobre a prostituição na avenida Champs-Elysées. Resultado, a reação furiosa do professor de desenho em um processo contra a revista, a agência e Doisneau. O Tribunal condenou a revista a pagar um montante elevado por fraude. Também condenou a agência pela falta de critérios na divulgação da imagem. Robert Doisneau foi absolvido. O tribunal se limitou por considerá-lo "um artista irresponsável".
Gisèle Freund (Photographie et Société, Éditions du Seuil, 1974)
Foto: © Robert Doisneau (1912-1994)

Um comentário:

Nuno Sousa disse...

Um fotografo nunca pode controlar a interpretação que o leitor faz das fotos. Isso é, ao memo tempo, uma vantagem e uma desvantagem.